segunda-feira, dezembro 04, 2006

CLIMAX DA ELOQUENCIA !

Carta dirigida pelo Dr. Frederico de Moura,
Médico e Historiador de Vagos ao
Dr. Nogueira de Lemos,
Médico Cirurgião de Aveiro

Meu caro Lemos,
É coisa axiomática que o pénis não obedece a freio; e
é coisa de esperar que, a natureza o tenha dado a
animal que lhe não obedece. Mas como a esta
estuporada profissão que exercemos só aparecem
anormalidades, aberrações e coisas em desacordo com
a natureza, surgiu-me hoje no consultório esse
rapazinho que lhe envio, com um freio de tal dureza e
de tal conformação que o insubmisso pénis,
tradicionalmente indomável, não teve outro remédio
senão ceder. Calcule os mistérios e os paradoxos desta
ladina natureza! Esse moço, na casa dos 20 anos com
uns corpos cavernosos que devem estar isentos de
qualquer esclerose ou de qualquer obstrução, e
concerteza dispondo de uma libido afinada capaz de
lhe fazer sair, erecto, o próprio umbigo, resolve ir para
o casamento com os seus (dele) três vinténs e confirma,
então a suspeita que já tinha, de que no auge da
metálica erecção, o pénis fica em crossa como o báculo
de um bispo, por incapacidade de vencer a brevidade
e a dureza do freio que lho verga para a terra. Calculará
o meu prezado Lemos, as acrobacias de alcova que
este desgraçado terá de realizar para conseguir a
penetração de um membro viril, quase tão torto como
uma ferradura, na vagina suplicante da consorte.
De modo que o rapazinho veio pedir-me socorro, e
eu condoído peço-lhe a sua colaboração em favor da
harmonia conjugal, com a certeza de que por isso
ninguém nos irá acoimar de chegadores. Condoa-se
a cirurgia de braço dado com a medicina que, por
intermédio deste fraco servidor que eu sou, já se
condoeu e endireitemos o pénis torto (e nada de
confusões, que não é mole pelo que me afirma o
proprietário). Lembremo-nos, sobretudo, ao
praticarmos esta obra, que vem aí um tempo em que
um pénis destes, mesmo em arco ou em forma de
saca-rolhas, nos faria um jeitão, e ajudemos o pobre
rapaz que se compromete comigo a fazer bom uso
dele, emprenhando a mulher da primeira vez que o
usar, depois da operação ortomórfica que o meu
amigo lhe vai fazer sem sombra de dúvida.
Desculpe mandar-lhe desta vez uma tarefa fálica! Ouvi
uma mulher um dia dizer que um Phallus é um
excelente amuleto e que dá sorte verdadeira. Se
quiser tirar a prova não tem mais que endireitá-lo ...
e jogar a seguir na lotaria. Desculpe, pois, a remessa
de bicho tão metediço que eu por mim prometo, logo
que possa, e em compensação, mandar-lhe uma vulva
virgem e nacarada como uma concha de
madrepérola.
Um abraço do seu amigo certo
Frederico de Moura
P.S. –
Como a minha letra é muito má segundo a sua
opinião, e como o assunto desta carta é muito
importante para duas pessoas, uma das quais do sexo
fraco, entendi do meu dever dactilografá-la . Assim,
não haverá nenhuma razão para que o meu amigo
dizer que não entendeu o que eu queria e, por partida,
deixar o aparelho na mesma ou pior ao rapaz.
Quero ainda dizer-lhe que para sua compensação,
tenciono depois do êxito que o seu ferro cirúrgico vai
alcançar, comunicar o seu nome à mulher beneficiada
que, por certo, lhe ficará eternamente grata, ficando
sempre com a sua pessoa presente na memória nos
momentos – e oxalá que sejam muitos ! – em que se
sentir penetrada por um pénis que só o meu Amigo
conseguiu endireitar. E nem sei se o Estado virá louvar
a sua acção, se lhe for dado conhecimento que os
filhos que saírem daquele casal são devidos em
grande parte (não ao seu pénis) mas, sem dúvida, à
sua mão.
E filhos com a mão nem toda a gente se poderá gabar
de os fazer !
Creia-me seu afeiçoado,
Frederico
27/3/1958

2 comentários:

soledade disse...

Delicioso.
Tanta eloquência mobilizada por um falo torto.

A mão que escreve torto endireita a letra da carta com uma máquina, a coisa torta é endireitada por causa da letra direita.

Só espero que o médico não seja canhoto. Acho que o paciente teria maior sorte se calhasse um médico direito... e aí a máquina passa a ser outra.

Ana Loura disse...

Q maravilha!!!!