quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Tributo...

Meu querido Avô e minha querida Avó,

Queria contar-vos o meu dia de hoje.

Iniciámos hoje a obra de demolição do Hotel ao mesmo tempo que preparámos também a demolição de parte das nossas Termas.



Sinto que assisti hoje à demolição de parte dos edificios e das paredes do meu coração.

A cada parede que caia, sentia um receio e um medo brutal de perder cada memória, cada história de cada segundo vivido entre aquelas paredes.

(as festas de familia, os Natais e as Pascoas com os primos alojados no Hotel, os almoços e jantares no salão do Hotel, os acepipes, os bifes na frigideira, os brioches doces da manha, o Lopes a servir à mesa, o Joaquim Rosa na recepção, a Tia Maria do Carmo a jogar as cartas, os finais de dia no Bar a beber groselha)

são tantos os retalhos da memória que nao quero perder...

A velocidade com que destruíamos aquilo que tanto trabalho e tempo vos demorou a construir, é directamente proporcional à velocidade e inconstância do meu pensamento e dos sentimentos.

Sei que marcámos hoje o fim da vossa obra...

Resta-me agora ver-Vos na avenida, nas arvores, no relógio de sol, nas palavras e nas estórias do meu Pai, do J. Gaspar, do J. Guerra, do J. Santos, e de muitos outros, mas sobretudo no meu espírito e na minha vontade de querer refazer e reconstruir.

No meu desejo sincero e sentido de Vos prestar homenagem e tributo pela Obra realizada.

Um beijo do vosso neto,

Luis

4 comentários:

NUNC COEPI disse...

Meu caro Luís:

Tocou-me muito que tivesses querido partilhar comigo - com o teu Pai, é naturalíssimo - o "grito de alma" que se pode entrever no teu Blog. Quem partilha algo, íntimo e pessoal, demonstra confiança na pessoa com quem o faz e, legitímamente, espera "resposta" à sua partilha.
Aqui vai o que ocorre a este Tio que muito te estima, dizer-te, hoje, a respeito do que "gritas-te" silenciosamente, no teu Blog:
As coisas...são coisas, as casas...são casas. Quiz a Deus que os teus Avós - meus Pais muito queridos - fossem pessoas fora do vulgar que construiram ao longo de uma longa vida, muitas coisas, obras, casas, propriedades, escreveram livros, plantaram milhares de árvores, foram ilustres entre os seus no seu tempo, deram-se com os "grandes" desta terra, receberam nas suas casas Presidentes, Ministros e Embaixadores, pessoas de altíssima categoria e de elevados cargos.
Mas...ao mesmo tempo, foram pondo de pé outras obras, outros feitos, a "Sopa dos Pobres", a "Casa de Trabalho" para as mulheres de Monte Real, os serviços de "parteira", a carteira sempre pronta - o teu Avô trazia-a do lado do coração - a ajudar os que a ele acorriam, os padrinhos de casamentos e baptizados, o pagamento dos estudos a tantos Sacerdotes sem recursos, o "inventar" trabalho, sobretudo no Inverno, para garantir o sustento dos que por aí trabalhavam, o auxílio discreto ao Senhor Prior, sempre aflito para sustentar a Paróquia...sei lá, meu Luís, tantas e tantas coisas que nem por serem discretas, apagadas feitas com simplicidade não deixam de ser - ou talvez por isso mesmo o sejam - grandes, belas, invulgares.
O teu Avô não era "agarrado" ás coisas, desfazia-se delas com a mesma simplicidade com que as adquiria. Estava sempre a transformar, a inovar, a deitar abaixo e a levantar de novo.
A tua Avó tinha um coração tão grande cheio de pessoas - filhos, netos, bisnetos, amigos - que não tinha lugar para as coisas. A casa de Fátima não é prova disso?
Os teus Avós, hoje, no Céu onde estão, hão-de sorrir ao ver cair as paredes do Hotel. Sabem que no seu lugar, vão ser levantadas outras, mais modernas, funcionais. Mas, sorriem sobretudo porque te vêm a ti, Luís, a participar nesse começar e recomeçar que foi toda a sua vida.
Eu, dou muitas graças a Deus por seres tu, com o teu belo coração, a assistir mais de perto ao nascimento de uma nova era.

Mexia disse...

Obrigado Tio.

Era o que precisava de ler, era o que precisava de saber, era o que precisava de sentir.

Um beijo

joaquim disse...

Meu querido filho Luis

Aquilo que eu não senti, quando ao teu lado assisti de manhã ao "desabar" das paredes do "nosso" Hotel, senti agora ao ler-te.
Confesso sem vergonha que as lágrimas me vieram aos olhos e ainda teimam em por cá andar.
Sabes, não senti então, porque fechei o coração, a memória, porque têm sido tão provados nestes últimos anos e tempos, que os quis preservar de mais provações.
Mas meu filho, estava errado quando o fiz, e ao ler-te e sentir-te, ao deixar cair as lágrimas, instalou-se a paz que eu precisava.
Como o meu querido irmão António, penso que um bem maior vai sair deste fechar de um ciclo.
Por isso me alegro, até por aqueles que nada contribuindo para o bem de Monte Real, vão "aproveitar" do que vai nascer.
Os teus avós, meus queridos pais, estão com certeza no Céu felizes porque as termas vão continuar, mas sobretudo porque aquilo que para eles era mais importante, a familia, os valores, o amor, vive forte ainda e tu és um belissimo exemplo disso.
Dou graças a Deus por te ter colocado a meu lado na certeza de que a tua força, o teu braço, foram a ajuda preciosa, (depois da minha fé e esperança no Deus que nunca nos abandona), em atravessar este rio caudaloso que quis atravessar a minha vida.
Alegra-te porque Deus é fiel e nunca deixa de abraçar aqueles que amam como tu amas.
Um beijo do teu pai que te ama como tu sabes.

Mexia disse...

Obrigado Pai.

Um beijo.